09 February 2006

Crônica 4 - Estamos na iminência de viajar para Huambo, uma capital de uma província de mesmo nome (província é o mesmo que estado da federação). Iremos fazer uma vistoria em uma estrada de 85km de extensão. Este local fica no grande planalto africano, distante 700km de Luanda, com altitudes acima dos 1200m. Deve ser frio e para chegar lá precisaremos ir de avião, por causa da precariedade das estradas, ou então sacolejar durante toda a distância. Esta viagem já foi adiada três vezes e acho que possivelmente poderá se adiada novamente. Bem, estou esperando algo semelhante a vida de Tarzan, ou quem sabe me tornar um Jim das Selvas. Leões, elefantes e hipopótamos têm povoado meus sonhos nestas últimas noites. Falando sério, é preciso tomar cuidado para não se afastar da estrada, pois existem minas ainda do tempo da guerra implantadas pela UNITA. Espero que ao menos dê para ver algum macaquinho balançando na árvore.

Tenho pensado também em uma história que nos foi contada por Diniz, um dos engenheiros de uma grande construtora aqui em Luanda. Ele e Eugénio, outro engenheiro da empresa, tiveram que ir a Benguela, capital da província de mesmo nome, no litoral central de Angola. Ao chegar ao aeroporto viram que as opções de vôo eram poucas. Muito determinado, Diniz estava decidido a chegar logo em Benguela, pois haviam negócios urgentes a serem concluídos. Procurou informações e soube que existia uma empresa que teria um avião para o seu destino dentro de uma hora. Ao chegar ao balcão soube que o vôo estava lotado. Nosso amigo armou tal confusão que o atendente irritado colocou os dois para viajar. Na hora indicada foram transportados em vans e não em ônibus como é de praxe no aeroporto. Os dois começaram a desconfiar que entraram em uma fria quando de longe viram o avião.

Era um Illyushin, avião russo velho e fumacento, que Diniz viu uma vez no aeroporto e prometeu nunca viajar nele. Ao chegar perto aparelho, Diniz achou estranho que o pessoal que os conduzia olhava para os lados incessantemente e bastante ansiosos. Tomou um susto quando viu que a escada que levava ao interior do avião era de madeira. Eugénio na fila para subir sugeriu: - Vamos embora, este negócio não está dando certo. – Que nada, eu agora vou de todo jeito, respondeu Diniz lembrando-se da briga que tivera no aeroporto. Subiram e lá dentro viram que o avião não tinha forro e estava completamente carregado. Era um cargueiro e os passageiros iam em pé, procurando um local que mais lhe conviesse. Não havia como se amarrar no interior daquele brutamontes.Os dois escolheram ficar perto de umas camas que estavam em pé e o avião começou a taxiar. Perceberam na hora da decolagem que as camas estavam soltas, e pior, empurrando-os contra uma pilha de pneus de trator. Eugénio teve a brilhante idéia de subir na pilha e ficar no meio dos pneus, mas quando chegou lá em cima, viu que outros três já tinham pensado da mesma forma. Diniz só pensava que ia morrer do sufoco e imaginava no velório os amigos conversando: - De que morreu? – Foi um acidente aéreo. – Acidente!? Onde o avião caiu? – O avião não caiu ele, aterrisou normalmente. Ele morreu estrangulado por uma cama que estava solta no avião.
Após 40 minutos o avião aterrisou em Benguela e os dois desceram completamente destroçados pela viagem. Este tipo de viagem existe por aqui e os desavisados devem se prevenir. Estes aviões arreiam a traseira para que possam ser carregados. Na República do Congo, o ano passado, esta traseira arriou a uma altitude de 10.000 metros. Todas as 40 pessoas que estavam dentro, na mesma situação de Diniz e Eugénio morreram. É por esta e pelas outras que eu vou querer saber muito bem que tipo de avião é esse que vai me levar para Huambo.

1 comment:

Anonymous said...

lembrei duma história engraçada que aconteceu-me. Estávamos indo (eu e o meu marido) para Marrocos, daquí de Portugal são 2 horas de vôo, e quando vimos o avião o meu marido não queria mais ir.... de dois motores, apenas um funcionava...